Será Que Evoluímos Mesmo? Reflexões a Partir do Livro Sapiens
- R. Scharf
- há 13 minutos
- 3 min de leitura
Uma conversa sobre o livro Sapiens, organização social, meio ambiente e o ser humano de ontem e de hoje.
Hoje, em meio à rotina, parei para almoçar com uma amiga especial. Nossa amizade nasceu daquelas conexões raras: livros, séries, filmes e psicologia. E, como sempre acontece quando nos encontramos, mergulhamos em uma conversa intensa, dessas que fazem a gente sair com a cabeça cheia de reflexões.
O tema da vez foi o livro Sapiens: Uma Breve História da Humanidade, do autor Yuval Noah Harari. Eu li há mais de dez anos. Ela terminou agora. E mesmo após tanto tempo, redescobri o impacto daquela leitura através do olhar dela. Lembrei da sensação que tive: uma mistura de fascínio e indignação ao entender o verdadeiro papel do Homo sapiens na história da Terra.
Harari deixa claro: desde os primórdios, o ser humano tem sido o principal agente de destruição ambiental e extinção de espécies. Grandes animais como mamutes, preguiças gigantes e tantas outras criaturas desapareceram após a chegada do Homo sapiens a seus habitats. É duro aceitar, mas fomos — e continuamos sendo — um dos predadores mais cruéis que este planeta já conheceu.
No passado, talvez a ignorância justificasse parte desse impacto: vivíamos sob o instinto da sobrevivência, caçando e coletando para comer. Mas hoje? Com séculos de conhecimento acumulado, tecnologia avançada e acesso à informação, ainda vemos os oceanos se transformando em lixões, o desmatamento aumentando, a poluição sufocando cidades e ecossistemas inteiros.
Humanidade e meio ambiente: o que não aprendemos?
Essa conversa me levou a uma pergunta inevitável: será que evoluímos mesmo?
Vivemos cercados de tecnologia, ciência, redes sociais, inteligência artificial. Mas, ao mesmo tempo, somos cada vez mais dominados pela ganância, pelo desejo de poder, pela ostentação e pelo consumo desenfreado. O simples perdeu valor.
O essencial perdeu espaço. Responsabilidade social, afetiva e ambiental viraram exceção, não regra. Estamos doentes. O planeta está doente. E ainda insistimos em chamar isso de progresso.
Sapiens e a organização social: do instinto à desigualdade estrutural
Um dos pontos mais marcantes do livro Sapiens é como ele analisa a evolução da organização social humana. Lá atrás, nossos ancestrais viviam em pequenos grupos tribais, onde todos se conheciam e compartilhavam recursos. Não havia propriedade privada, grandes hierarquias ou acúmulo de bens. As decisões eram coletivas, e a sobrevivência dependia da cooperação direta entre os membros do grupo.
Hoje, nossa sociedade é o oposto: hiperespecializada, burocrática, desigual e impessoal. Vivemos em cidades imensas, cercados de milhões de pessoas que não conhecemos, e dependemos de instituições complexas (governos, empresas, sistemas econômicos) para nos manter de pé. A confiança não é mais pessoal, mas institucional.
A consequência? Desconexão. Do outro. De nós mesmos. Da natureza.
E mesmo com todo esse aparato social, seguimos repetindo os mesmos padrões destrutivos de nossos antepassados, só que agora em escala global.
Reflexões sobre o futuro: o que ainda podemos mudar?
Talvez a lição mais dura de Sapiens não seja sobre o passado, mas sobre o presente. Sim, o Homo sapiens criou civilizações, dominou o planeta, voou ao espaço. Mas também devastou florestas, exterminou espécies, construiu muros sociais e emocionais, e perdeu o senso de cuidado com aquilo que sustenta a vida.
O livro não oferece respostas fáceis. Mas provoca as perguntas certas.
E talvez, em um almoço simples com uma amiga, entre lembranças de leitura e discussões sobre a vida, estejam os primeiros passos para uma verdadeira mudança:
– Repensar nossos hábitos de consumo.
– Reavaliar o que realmente importa.
– Reconectar com o outro e com o planeta.
Porque se fomos capazes de causar tanto dano, também somos capazes de escolher um caminho diferente. Um caminho mais consciente, mais humano, no melhor sentido da palavra.

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