Livros baseados em fatos reais - Episódio II: Nazismo.
- R. Scharf
- 23 de jun.
- 6 min de leitura
Por que nunca devemos deixar de falar sobre o nazismo
Mesmo tantas décadas depois, falar sobre o nazismo continua sendo um dever, não apenas histórico, mas humano. Não se trata de reviver feridas antigas, mas de manter viva a memória de milhões de pessoas silenciadas, apagadas por um regime que fez do ódio sua bandeira. Lembrar é, ao mesmo tempo, um ato de respeito, de resistência e de alerta. Porque a história, quando esquecida, tende a se repetir.
Durante uma viagem à Alemanha, visitei o campo de concentração de Dachau, próximo a Munique. Não fui a Auschwitz, que muitos dizem ser ainda mais brutal, mas confesso: Dachau foi o suficiente para me deixar profundamente nauseada e abalada. Caminhar por aquele lugar foi como ouvir os gritos que ainda ecoam nas paredes frias, sentir o peso das ausências, e me perguntar: como? Como Hitler conseguiu manipular uma nação inteira, um exército inteiro, a ponto de transformá-los em agentes de tamanha crueldade?
A imagem do portão de entrada, com os dizeres “Arbeit macht frei” — O trabalho liberta — me acompanhou por dias. Aquela frase, que disfarçava a barbárie sob um manto de falsa redenção, ainda me causa revolta. Jornais da época anunciavam aqueles campos como "educativos", lugares onde o trabalho "curaria" os prisioneiros. É repugnante. É desumano.

É por isso que precisamos continuar falando sobre isso, por mais difícil que seja. Para que o horror que aconteceu nunca caia no esquecimento. Para que novas gerações entendam o que está em jogo quando o ódio se normaliza. Neste post, quero compartilhar alguns livros que me tocaram profundamente, obras que me fizeram refletir sobre o que foi vivido por quem passou por esse inferno, e por que é urgente, ainda hoje, continuar lembrando.
Porque só quem viveu na pele pode contar com verdade. E cabe a nós ouvir, aprender e não permitir que se repita.
Ler sobre o nazismo não é fácil. É como caminhar por ruínas com o coração exposto — mas é necessário. É através das palavras dos sobreviventes, dos testemunhos e até da ficção sensível que conseguimos compreender o peso do que aconteceu. Cada livro abaixo é uma porta aberta para a empatia, a consciência e a memória.
📚 “O Diário de Anne Frank”
Iniciando as indicações com um dos livros mais clássicos. Poucos livros capturam a inocência interrompida como o diário de Anne Frank. Escondida com sua família por mais de dois anos em um anexo secreto em Amsterdã, Anne escreveu com sensibilidade sobre o medo, a esperança, os conflitos e os sonhos de uma adolescente em tempos de terror. O mais comovente é que, mesmo diante do horror, Anne ainda acreditava na bondade humana. Seu diário é mais do que um documento histórico — é uma ponte entre gerações. Um lembrete de que cada vítima tinha um rosto, uma história, um coração pulsando.
“Afinal, o que é ser feliz? É sentir-se seguro e amado, é ter um sonho, é ter saúde.”
📚 “A Bailarina de Auschwitz”, de Edith Eva Eger
Edith tinha apenas 16 anos quando foi levada para Auschwitz com sua família. Na primeira noite, perdeu os pais, e, poucos dias depois, foi forçada a dançar para Josef Mengele, conhecido como o “Anjo da Morte”. Mas A Bailarina de Auschwitz não é apenas uma história de dor: é uma história de renascimento. Edith sobreviveu, passou por um estresse pós traumático, e a dor fez com que ela se tornasse psicóloga. Assim, passou a ajudar pessoas a curarem suas próprias feridas. Este livro é mais do que uma autobiografia: é uma lição de resiliência, coragem e libertação interior. Ela nos ensina que mesmo nos lugares mais escuros, podemos encontrar luz — e que a liberdade começa dentro de nós.
“Às vezes, os piores momentos de nossas vidas… são de fato os momentos que nos levam a entender o nosso valor.”
📚 “O Homem Mais Feliz do Mundo”, de Eddie Jaku
Eddie Jaku viu o pior do ser humano — e ainda assim escolheu ser feliz. Judeu alemão, sobreviveu a Buchenwald, Auschwitz e a uma longa fuga após escapar de uma marcha da morte. Perdeu amigos, familiares, sua juventude... mas não perdeu a fé na bondade. Já idoso, decidiu compartilhar sua história com o mundo. Em cada página, ele nos lembra que a felicidade não é ausência de sofrimento, mas uma escolha diante das circunstâncias. Uma leitura leve no tom, mas pesada em significado. Ideal para quem busca inspiração real, vinda de alguém que viu o inferno e escolheu viver com luz.
“Prometi, quando saí das horas mais sombrias da minha vida, que seria feliz pelo resto dos meus dias e que sorriria — porque, se você sorri, o mundo sorri com você. Cada respiração é um presente. A vida é bela, se você permitir. A felicidade está em suas mãos.”
“Na minha mente, essa é a melhor vingança — e é a única que me interessa: ser o homem mais feliz do mundo.”
📚 “O Menino do Pijama Listrado”, de John Boyne
Uma ficção curta, mas poderosa. Bruno é um menino de 8 anos, filho de um oficial nazista, que faz amizade com Shmuel, um garoto judeu do outro lado da cerca de um campo de concentração. Sem entender a gravidade do mundo em que vivem, os dois compartilham conversas e inocência — até um desfecho chocante. O livro não tem pretensão de ser historicamente preciso, mas acerta ao mostrar como a inocência infantil colide com a crueldade adulta. Uma fábula trágica que nos convida a refletir sobre culpa, ignorância e humanidade.
“Às vezes, as pessoas só precisam de uma chance para serem amigas, mesmo que estejam separadas por uma cerca.”
📚 “O Pianista”, de Władysław Szpilman
Władysław Szpilman era um renomado pianista judeu na Polônia quando os nazistas invadiram Varsóvia. O livro que virou filme, narra sua jornada de sobrevivência: do gueto à destruição completa da cidade, passando pela solidão, pela fome e pela ajuda inesperada de um oficial alemão. Sua música foi, em muitos momentos, o que o salvou. Este é um relato real, que ganhou ainda mais visibilidade com o filme homônimo de Roman Polanski. Uma história de horror, mas também de arte como resistência e da força da dignidade humana mesmo sob escombros.
“Mesmo quando a esperança parecia perdida, eu sabia que enquanto pudesse tocar piano, algo dentro de mim permanecia vivo.”
📚 “Em Busca de Sentido”, de Viktor Frankl
E encerrando esse post, esse foi um dos livros que me fizeram olhar com mais atenção para a psicologia, é uma das obras mais transformadoras que já li.
Viktor Frankl, psiquiatra austríaco, sobreviveu a quatro campos de concentração, incluindo Auschwitz. Em meio ao sofrimento extremo, à fome, ao luto e à desesperança, ele desenvolveu a Logoterapia, uma abordagem/vertente da psicologia que mostra que a busca por um propósito é o que nos mantém vivos. Frankl acreditava que, mesmo diante do sofrimento mais extremo, encontrar um propósito é o que sustenta e renova a vontade de viver. Ele não romantiza a dor, mas a reconhece como parte da existência humana.
No livro, Frankl ilustra como, durante o Holocausto, ele e outros prisioneiros que conseguiam manter um “porquê” para viver — uma missão, um amor, uma esperança — tinham maiores chances de sobreviver, apesar das condições brutais. Esse “porquê” é o foco central da logoterapia.
“Tudo pode ser tirado de um homem, exceto uma coisa: a última das liberdades humanas — escolher a atitude em qualquer conjunto de circunstâncias, escolher o próprio caminho.”
“Quando não somos mais capazes de mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos.”
Conclusão
Falar sobre o nazismo não é só lembrar do passado, é um compromisso com a gente mesmo, com a nossa humanidade. Por trás dos números, havia pessoas reais, sonhos que foram interrompidos, famílias destruídas e uma dor que não pode ser esquecida. O ódio e a intolerância que permitiram tudo isso podem voltar de formas diferentes, e é por isso que precisamos estar sempre atentos.
Quando lemos essas histórias, esses relatos, a gente entende que não pode ser só espectador. Somos responsáveis por carregar essa memória e aprender com ela. Cada palavra, cada testemunho, é um convite pra gente pensar no valor da empatia, da força e da esperança. Porque o que nos salva é transformar toda essa dor em vontade de construir um mundo melhor.
Que a lembrança do que aconteceu inspire a gente a nunca fechar os olhos pra injustiça, pra indiferença, pra silêncio. Vamos manter essa chama viva, por respeito, por justiça, por amor. E nunca, nunca parar de falar, porque é falando que a gente protege a humanidade de repetir os mesmos erros.




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